BPC “afunda” banca angolana

Os resultados líquidos da banca angolana afundaram 237% em 2020, com perdas de 218 milhões de euros reflectindo o reconhecimento da menos-valia na cessão de 80% da carteira de crédito malparado do Banco de Poupança e Crédito (BPC, público) à RECREDIT.

Os dados constam do relatório “Banca em análise” da Deloitte Angola hoje apresentado e no qual se dá destaque à “trajectória mista dos principais indicadores do sector face a 2019” e onde se refere que o resultado líquido do sector bancário nacional registou uma redução para um valor negativo acumulado de 166 mil milhões de kwanzas (218 milhões de euros).

Se, por um lado, se registou um aumento total dos activos (cerca de 19%) e do crédito líquido concedido a clientes (cerca de 10% em 2020, invertendo a tendência de diminuição dos três anos anteriores), ao nível do resultado líquido verificou-se um prejuízo agregado, em larga medida decorrente do reconhecimento da menos-valia na cessão de cerca de 80% da carteira de crédito malparado do BPC à RECREDIT, a empresa estatal criada para este efeito.

A 31 de Março de 2020, a RECREDIT assinou com o BPC um contrato através do qual o banco público entregou ao “banco mau” 80% da sua carteira de crédito com um valor estimado de 951 mil milhões de kwanzas (1,4 mil milhões de euros).

Em Maio, o presidente do Conselho de Administração da RECREDIT, Walter Barros, revelou que, em 12 meses, a instituição tinha recuperado 7,8 mil milhões de kwanzas do malparado do BPC (10,2 milhões de euros), esperando resgatar dos devedores 19 mil milhões de kwanzas em 2021 (25 milhões de euros).

Caso o BPC não fosse considerado, o resultado líquido agregado dos bancos analisados no estudo da Deloitte registaria um decréscimo de 32% face a 2019.

O prejuízo de 525 mil milhões de kwanzas (688 milhões de euros) apresentado pelo BPC em 2020, é o maior prejuízo da história da banca angolana, sendo que, nos últimos anos, tem vindo a apresentar prejuízos sucessivos, indica o documento.

De acordo com as demonstrações financeiras dos mais de 20 bancos analisados, as dotações líquidas de perdas por imparidade registaram uma reversão significativa face a 2019, tendo em 2020 atingido o montante de -67 mil milhões de kwanzas (-88 milhões de euros), comparativamente aos 433 mil milhões de kwanzas em 2019 (566 milhões de euros).

Em termos de crédito líquido, ascendeu a 2 921 048 milhões de kwanzas (3,8 mil milhões de euros), o que corresponde a um aumento de cerca de 10% face a 2019, invertendo a tendência que se verificou em 2018 e 2019.

A evolução do crédito líquido concedido pelos Bancos apresentou uma redução acumulada de aproximadamente 18% de 2016 a 2019, explicada essencialmente pela implementação das medidas definidas no âmbito do programa de Avaliação da Qualidade de Activos (AQA) levado a cabo em 2019 e da existência de políticas mais rigorosas de concessão de crédito.

Em 2020, a tendência decrescente verificada inverteu-se pelo impacto das medidas para estimular o financiamento adoptadas pelo governo angolano, bem como a depreciação do Kwanza, adianta o relatório.

Por outro lado, o indicador de crescimento relativo aos Depósitos de Clientes apresentou um valor de 21%, um valor superior em 8 pontos percentuais ao verificado em 2019.

No que respeita à margem financeira, este indicador apresentou um aumento de 37 pontos percentuais comparativamente a 2019, sendo que o produto bancário e o resultado líquido do exercício apresentaram decréscimos significativos de 55% e 237%, respectivamente, face a 2019.

O estudo incidiu sobre 26 bancos que integram o sistema financeiro angolano.

O relatório não incluiu o Banco Económico, uma vez que as respectivas demonstrações financeiras do exercício de 2020 não se encontravam disponíveis na data do estudo.

Lusa

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